domingo, 28 de fevereiro de 2010

Estranho V

Quando chegamos levei a mala para meu antigo quarto enquanto minha mãe voltava a cuidar do que faltava para o funeral de vovó que aconteceria no dia seguinte. Retirei meu Álvares de Azevedo da mala e recostei-me na cabeceira da cama para ler, adormecendo em seguida. Quando despertei dei-me conta de que havia sonhado com Dona Emília - minha avó-. Em meu sonho ela colocou a mão sob minha bochecha e olhou-me por cima de seus óculos, um olhar sábio e experiente, e falou: "É como eu sempre disse minha filha, a vida não é feita para sobreviver e sim para viver. Ela é muito curta pra ficarmos perdendo tempo com lamúrios pelos que já se foram."
Realmente ela sempre falava isso... Sei que vim até aqui para o velório, mas minha vontade era de sair correndo, não aguentava mais aquela sensação, aquele peso. Resolvi ir falar com minha mãe para pegar seu carro emprestado. Ela estava tentando entrar em contato com os parentes mais distantes para comunicar-lhes sobre o acontecido então esperei ela desligar o telefone.
" Mãe, algum problema se eu pegar seu carro emprestado?" Perguntei meio insegura. Era estranho ter de pedir algo a ela.
" Foram tantos acontecimentos que eu havia me esquecido. Há alguns dias sua avó decidiu que em seu próximo aniversário lhe daria o Maverick que era de seu avô... Esse sim era o xodó dele!" Ela disse enquanto ia até o armário na cozinha.
" Tá brincando!" falei em um tom que misturava descrença e perplexidade pois sempre achei que essa maravilha iria para meu primo.
" Está parado a um bom tempo então é bom ele passar por uma regulagem o quanto antes." falava enquanto vinha em minha direção com a chave na mão para entregar-me.
Eu mau podia acreditar que o Maverick ano 77 motor V8 que era de vovô agora seria meu. Fiquei tão feliz que resolvi ignorar o fato de que seria um tanto complicado de manter aquele "monstro bebedor de gasolina".
" Creio que não vai querer mais meu carro, certo?" brincou Marta
Apenas mostrei-lhe um sorriso e saí num risco em direção a garagem. Retirei a lona que o cobria e dei uma boa olhada. Sentei-me em frente ao volante e girei a chave na ignição dando a partida no motor e alegrando-me ao ver que minha mãe lembrara de encher o tanque. O som do motor era simplesmente maravilhoso.
Resolvi ir até a cidade vizinha que fica a pouco mais de uma hora de onde eu estava. É uma cidade litorânea, pacata nessa época do ano. Peguei a estrada com um ânimo que eu achava impossível ter nas ultimas quinze horas.

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